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Sempre tenho muita pena desses artistas de rua. Mesmo quando fazem sucesso e ganham um bom dinheiro. Aquele então, me deixou muito comovido. Pela arte e pela pobreza.
A fila andou, agradeci, aplaudi e deixei o grande artista anônimo tocando na rua e recebendo seus trocados.
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Esse contraste de pagar uns trocados pela apresentação de um artista de rua, pobre e miserável e, em seguida pagar para ver artistas sofisticados que se apresentam em locais nobres, me deixou ainda mais emotivo.
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Então, o clima era perfeito. A acústica das igrejas da idade média, com suas cúpulas góticas é perfeita para o canto e a música de câmara. Provavelmente é o som mais puro que já ouvi. Você percebe cada instrumento e cada intenção; mesmo os harmônicos mais baixinhos do violino chegam intactos ao ouvido. Somos completamente envolvidos pelo som, pela música, na harmonia rebuscada do barroco, onde os instrumentos conversam entre si formando uma unidade sonora que te pega no colo e te leva para as alturas.
Como cenografia, a luz ainda presente do verão europeu, onde o sol só se põe completamente depois das onze e meia da noite. Esta luz, plena de calor, com os tons quentes do entardecer, refratava-se nos imensos vitrais multicoloridos e gerava raios que produziam uma iluminação etérea e mágica.
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Estávamos na primeira fileira de cadeiras, a dois metros da orquestra. O solista e maestro do grupo, Frédéric Moreau, era um spalla vigoroso e carismático. Em muitos momentos, executava passagens de um virtuosismo extremo, com o olhar fixo no horizonte, numa integração fantástica entre executante, instrumento e partitura. Arte pura! Foi inevitável chorar. |
Especialmente quando, no adágio do Outono, naquela atmosfera diáfana que vinha do diálogo entre as cordas e os acordes arpejados do cravo e do diálogo entre a luz do sol e os vitrais, lembrei-me que, num incrível acaso, naquele mesmo dia há um ano, meu pai falecia.
Essas lágrimas não me vieram como lágrimas de luto. Pensei que, se ele estiver em algum lugar, e pudesse saber naquele momento que nós, sua família, estávamos num estado de espírito de tanta paz, unidos e - de certa forma - rezando e nos aproximando dele e de Deus, certamente estaria muito feliz. Muito mais do que se tivéssemos mandado rezar uma missa de ano ou qualquer outra coisa que prestasse homenagem à sua memória.
Saí dali feliz e reconfortado da sua ausência e da saudade.
Terminado o concerto, na saída comprei o CD do excelente grupo de câmara, autografado pelo solista e maestro.
2 comentários:
Olá Paulo,
Infelizmente, todos q ainda não encontraram a verdadeira riqueza, a radiante alegria do Ser, e uma paz inabalável, são mendigos, mesmo que possuam bens e riqueza material.Buscam do lado de fora, migalhas de prazer, aprovação e segurança. O Ser não está apenas além, mas tbm dentro de todas as formas, como a mais profunda, invisível e indestrutível essência interior. Significa que ele está ao seu alcance agora, sob a forma de um interior mais profundo, ativada dentro de cada célula do seu corpo.Surge então, um sentimento de exaltação (como uma nota musical)e de intensa vivacidade qdo algo dentro de vc diz, compreender a presença é estar presente.
Li uma frase essa semana,"Saiba esperar,mas não perca tempo".Valeu esperar pelo texto.
Bjo
Paulo,
Gostoso transitar pelos registros afetivos de sua viagem.
Há uma apresentação objetiva de suas observações captadas por sua câmera, gentilmente compartilhadas conosco. Elas, muito além da reprodução de uma realidade estática, carregam um repertório de sentimentos e percepção bastante particularizada. Os ângulos e as nuances de luz utilizadas vão imprimindo às fotos parte de quem as registra.
Seu texto reafirma o quanto você se apresenta, muito além de sua observação visual.
Como disse Henri Cartier-Bresson
"Fotografar é colocar na mesma linha de mira a cabeça, o olho e o coração."
Tânia
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