sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Ê TREM BÃO!



Dizem que guerras trazem progresso.
Não dá prá chamar guerra de progresso.
Mas a imensa rede ferroviária européia provavelmente não seria a mesma sem as duas grandes guerras.
Hoje, eles a utilizam com fins pacíficos e divertidos.
























Viajar de trem na Europa é um prazer a mais, além da viagem em si.





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Os trens são confortabilíssimos, rápidos, silenciosos, seguros e, no meu modo de ver, baratos.




















E tem um serviço de bordo excelente.


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Além de vagões-lanchonetes deliciosos.




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São composições modernas com velocidades da ordem de 250 a 300 km por hora.
Mas não se ouve nada e não há nenhuma vibração. Não se trata daquele trem bala japonês que anda sobre um colchão de ar. É sobre trilhos mesmo.


































Há conexão WI FI de banda larga nos vagões da primeira classe, mas o gostoso é ver a paisagem rural européia passando pelos janelões.
















































































sábado, 19 de novembro de 2011

O MELHOR LUGAR PARA LEMBRAR DELE









No texto anterior, mencionei um momento de grande emoção que tive em uma das igrejas que visitei. Foi na linda Sainte-Chapelle. Quando fomos visitá-la, passava do meio dia, mas havia um cartaz anunciando um concerto para aquele mesmo dia, às sete da noite. Decidimos comprar o ingresso e voltar mais tarde para o concerto. Já na fila, um momento interessante: havia um cara com um violão ligado a uma caixa acústica, vestido pobremente, mas executando lindamente um dos estudos para violão de... quem??? Villa-Lobos. 


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Reconheci o concerto porque tenho um CD que eu adoro da obra completa do Villa para violão, com o grande Turíbio Santos. O cara era virtuoso, mas tocava num violãozinho ruim e bem surradinho, tinha um sorriso cheio de falhas, a barba por fazer e vestia um par de Havaianas gasto, mostrando os pés sujos. Sem o violão, era um mendigo miserável. Com o instrumento, era um artista. O povo na fila, nem olhava, indiferente. Cheguei perto dele e perguntei: Villa-Lobos? Ele sorriu: Oui! Sorri de volta e larguei 20 euros na cestinha, onde havia algumas moedas. Acho que nunca ninguém deixou essa quantia de uma vez. Ele sorriu agradecido e começou a tocar um outro estudo do Villa, meio que para mim. 
Sempre tenho muita pena desses artistas de rua. Mesmo quando fazem sucesso e ganham um bom dinheiro. Aquele então, me deixou muito comovido. Pela arte e pela pobreza. 


A fila andou, agradeci, aplaudi e deixei o grande artista anônimo tocando na rua e recebendo seus trocados.




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Dali a algumas horas, iria assistir a uma fantástica interpretação das Quatro Estações de Vivaldi, pela Orquestra de Cordas Les Violons de France, em plena nave de uma capela do sec. XIII.
Esse contraste de pagar uns trocados pela apresentação de  um artista de rua, pobre e miserável e, em seguida pagar para ver artistas sofisticados que se apresentam em locais nobres, me deixou ainda mais emotivo.








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Na hora do concerto, chegamos à Nave Superior da Sainte-Chapelle. Como já mostrei em fotos do post anterior, ela é um deslumbramento com sua profusão de vitrais majestosos.


Então, o clima era perfeito. A acústica das igrejas da idade média, com suas cúpulas góticas é perfeita para o canto e a música de câmara. Provavelmente é o som mais puro que já ouvi. Você percebe cada instrumento e cada intenção; mesmo os harmônicos mais baixinhos do violino chegam intactos ao ouvido. Somos completamente envolvidos pelo som, pela música, na harmonia rebuscada do barroco, onde os instrumentos conversam entre si formando uma unidade sonora que te pega no colo e te leva para as alturas.


Como cenografia, a luz ainda presente do verão europeu, onde o sol só se põe completamente depois das onze e meia da noite. Esta luz, plena de calor, com os tons quentes do entardecer, refratava-se nos imensos vitrais multicoloridos e gerava raios que produziam uma iluminação etérea e mágica.


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Estávamos na primeira fileira de cadeiras, a dois metros da orquestra. O solista e maestro do grupo, Frédéric Moreau, era um spalla vigoroso e carismático. Em muitos momentos, executava passagens de um virtuosismo extremo, com o olhar fixo no horizonte, numa integração fantástica entre executante, instrumento e partitura.


Arte pura! Foi inevitável chorar.


Especialmente quando, no adágio do Outono, naquela atmosfera diáfana que vinha do diálogo entre as cordas e os acordes arpejados do cravo e do diálogo entre a luz do sol e os vitrais, lembrei-me que, num incrível acaso,  naquele mesmo dia há um ano, meu pai falecia.


Essas lágrimas não me vieram como lágrimas de luto. Pensei que, se ele estiver em algum lugar, e pudesse saber naquele momento que nós, sua família, estávamos num estado de espírito de tanta paz, unidos e  - de certa forma - rezando e nos aproximando dele e de Deus, certamente estaria muito feliz. Muito mais do que se tivéssemos mandado rezar uma missa de ano ou qualquer outra coisa que prestasse homenagem à sua memória.
Saí dali feliz e reconfortado da sua ausência e da saudade.




Terminado o concerto, na saída comprei o CD do excelente grupo de câmara, autografado pelo solista e maestro.