PARIS

Cheguei ao hotel por volta das seis da tarde, depois de um vôo de mais de doze horas. O sol ía alto ainda, no verão europeu. Decidimos sair prá passear pelo bairro.
Numa esquina prá onde convergiam umas cinco ruas, olhei prá cima, admirando a arquitetura daqueles prédios, e vi estas nuvens estranhas marcando um ”X“ no céu.
Não pude deixar de associar com aquele sinal que marca onde está o tesouro.
Eu tinha acabado de encontrar um.








IMPRESSIONANTE & IMPRESSIONISTA


Esta é a primeira imagem que choca. Mesmo estando cansado de ver em filme, foto, jornal, quando você se vê cara-a-cara com ela, você treme… Treme tanto que a impressão é esta da foto: que ela está vindo em cima de você, com aquele monte de luz.
É isso o que os impressionistas queriam: gravar suas impressões. Mais do que aquilo que viam, queriam registrar a interação da luz com o objeto, modificando a maneira de ver a realidade.
Esta foto é uma homenagem a este grupo de revolucionários, que nasceu bem aqui, em Paris.
Não lembra uma cena de Monet ou aquelas pinceladas paralelas de Van Gogh?


O incrível aqui é como o parisiense usa a cidade; como sua casa.

É assim que o cidadão de um lugar entende a cidade onde vive: seu lar.

No Brasil, e acho que no resto do terceiro mundo, as pessoas não têm esta relação com a cidade. Sua casa começa da porta prá dentro. Ali você tem todos os direitos. É o conceito de propriedade privada. Só você manda ali. Nem a polícia entra sem ordem do juiz.

Nestas cidades mais, digamos, evoluídas, o cidadão tem o conceito da "propriedade pública". Aquilo tudo, calçadas, ruas, muros, pontes, rios, faróis, trens, metrô, prédios, torres, iluminação, tudo lhe pertence. E ele usa e cuida. Como se fosse - e é - a casa dele.

Não que não haja sujeira, vandalismo, pichação, trânsito meio caótico. Mas tudo isso acontece dentro de limites suportáveis. É uma pequena parte do todo. E você percebe que logo alguém faz o reparo daquilo. Como fazemos a manutenção das nossas casas: varremos, limpamos, trocamos lâmpadas queimadas, desentupimos canos.

Assim, a casa funciona. A cidade funciona.

E uma cidade que funciona faz toda a diferença na qualidade da vida que temos. Você pode usar o transporte público, porquê ele funciona. Você pode andar na rua porquê a limpeza pública funciona, a iluminação pública, a segurança pública, os equipamentos públicos funcionam.

Até o caos do trânsito - que existe - funciona. Os carros não avançam a faixa de pedestres e, no meio daquela zona, há silêncio. As motos dos entregadores passam por você, em silêncio. Respeitam a faixa deles e as dos outros e não vêm, em alta velocidade, buzinando e quebrando retrovisores. Nos raros lugares onde não há farol de pedestres, eles parecem ter um acordo tácito com os veículos. Uma linguagem não verbal, um olhar, uma atitude corporal que parece dizer: "com licença, posso atravessar?" - "pois não, eu aguardo". E aquilo funciona. Funciona não porquê os parisienses sejam melhores do que os paulistanos ou do que os recifenses ou do que os luandenses ou do que os tripolitanos ou do que os kosovares ou do que os tunisinos.

Aquilo funciona porquê o cidadão que mora em Paris percebeu que respeitar o outro e o lugar onde se vive é a única forma de viver com relativa qualidade, o pouco tempo que temos aqui. Ele não age assim por amor, nem por ética, nem por moral É por puro interesse de viver - ele - melhor. Age assim por inteligência, não por virtude.

Meu avô Demétrio, velho libanês com muita sabedoria, dizia assim: "Se o velhaco soubesse como é melhor ser correto, seria honesto, até por sacanagem"