sábado, 19 de novembro de 2011

O MELHOR LUGAR PARA LEMBRAR DELE









No texto anterior, mencionei um momento de grande emoção que tive em uma das igrejas que visitei. Foi na linda Sainte-Chapelle. Quando fomos visitá-la, passava do meio dia, mas havia um cartaz anunciando um concerto para aquele mesmo dia, às sete da noite. Decidimos comprar o ingresso e voltar mais tarde para o concerto. Já na fila, um momento interessante: havia um cara com um violão ligado a uma caixa acústica, vestido pobremente, mas executando lindamente um dos estudos para violão de... quem??? Villa-Lobos. 


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Reconheci o concerto porque tenho um CD que eu adoro da obra completa do Villa para violão, com o grande Turíbio Santos. O cara era virtuoso, mas tocava num violãozinho ruim e bem surradinho, tinha um sorriso cheio de falhas, a barba por fazer e vestia um par de Havaianas gasto, mostrando os pés sujos. Sem o violão, era um mendigo miserável. Com o instrumento, era um artista. O povo na fila, nem olhava, indiferente. Cheguei perto dele e perguntei: Villa-Lobos? Ele sorriu: Oui! Sorri de volta e larguei 20 euros na cestinha, onde havia algumas moedas. Acho que nunca ninguém deixou essa quantia de uma vez. Ele sorriu agradecido e começou a tocar um outro estudo do Villa, meio que para mim. 
Sempre tenho muita pena desses artistas de rua. Mesmo quando fazem sucesso e ganham um bom dinheiro. Aquele então, me deixou muito comovido. Pela arte e pela pobreza. 


A fila andou, agradeci, aplaudi e deixei o grande artista anônimo tocando na rua e recebendo seus trocados.




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Dali a algumas horas, iria assistir a uma fantástica interpretação das Quatro Estações de Vivaldi, pela Orquestra de Cordas Les Violons de France, em plena nave de uma capela do sec. XIII.
Esse contraste de pagar uns trocados pela apresentação de  um artista de rua, pobre e miserável e, em seguida pagar para ver artistas sofisticados que se apresentam em locais nobres, me deixou ainda mais emotivo.








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Na hora do concerto, chegamos à Nave Superior da Sainte-Chapelle. Como já mostrei em fotos do post anterior, ela é um deslumbramento com sua profusão de vitrais majestosos.


Então, o clima era perfeito. A acústica das igrejas da idade média, com suas cúpulas góticas é perfeita para o canto e a música de câmara. Provavelmente é o som mais puro que já ouvi. Você percebe cada instrumento e cada intenção; mesmo os harmônicos mais baixinhos do violino chegam intactos ao ouvido. Somos completamente envolvidos pelo som, pela música, na harmonia rebuscada do barroco, onde os instrumentos conversam entre si formando uma unidade sonora que te pega no colo e te leva para as alturas.


Como cenografia, a luz ainda presente do verão europeu, onde o sol só se põe completamente depois das onze e meia da noite. Esta luz, plena de calor, com os tons quentes do entardecer, refratava-se nos imensos vitrais multicoloridos e gerava raios que produziam uma iluminação etérea e mágica.


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Estávamos na primeira fileira de cadeiras, a dois metros da orquestra. O solista e maestro do grupo, Frédéric Moreau, era um spalla vigoroso e carismático. Em muitos momentos, executava passagens de um virtuosismo extremo, com o olhar fixo no horizonte, numa integração fantástica entre executante, instrumento e partitura.


Arte pura! Foi inevitável chorar.


Especialmente quando, no adágio do Outono, naquela atmosfera diáfana que vinha do diálogo entre as cordas e os acordes arpejados do cravo e do diálogo entre a luz do sol e os vitrais, lembrei-me que, num incrível acaso,  naquele mesmo dia há um ano, meu pai falecia.


Essas lágrimas não me vieram como lágrimas de luto. Pensei que, se ele estiver em algum lugar, e pudesse saber naquele momento que nós, sua família, estávamos num estado de espírito de tanta paz, unidos e  - de certa forma - rezando e nos aproximando dele e de Deus, certamente estaria muito feliz. Muito mais do que se tivéssemos mandado rezar uma missa de ano ou qualquer outra coisa que prestasse homenagem à sua memória.
Saí dali feliz e reconfortado da sua ausência e da saudade.




Terminado o concerto, na saída comprei o CD do excelente grupo de câmara, autografado pelo solista e maestro.























quarta-feira, 12 de outubro de 2011

IGREJAS de PARIS (algumas, muito poucas)





Difícil ir a Paris e deixar de ir ver algumas de suas inúmeras igrejas.


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Na verdade, são monumentos históricos. Lindos monumentos. As mais antigas são do século XI, como a Sainte Chapelle, pequena e gótica e, daí até o século XX, dezenas ou, sei lá, centenas de igrejas foram sendo construídas, de forma que não há um lugar em Paris que não tenha várias delas.
Fui a pouquíssimas; só quatro.Mas, em uma delas, tive uma das mais comoventes e inesquecíveis experiências da viagem e da minha vida.
Conto em seguida.














NOTRE DAME


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SAINT SEVÉRIN




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SACRE-COEUR DE MONMARTRE

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Assim como você vê ao longe a cúpula da Sacre-Coeur, na colina de Monmartre (acima), de lá também você tem uma vista maravilhosa da cidade (abaixo). A colina deve ser o ponto mais elevado de Paris.


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SAINTE-CHAPELLE

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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

“A GENTE NÃO QUER SÓ COMIDA…



… a gente quer comida, diversão e arte…“


Bem… comida, diversão e arte, dependendo do lugar e de algumas circunstâncias, podem ser a mesma coisa, podem se confundir. Isto é, num bom restaurante, você consegue tudo isso junto.


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Não fui a nenhum lugar especial, nenhum restaurante estrelado do Michelin, daqueles que exigem reserva com um ano de antecedência.
E descobri - desculpem os gourmets e críticos gastronômicos - que na Europa, especialmente em Paris, come-se muito bem em qualquer lugar.
Um exemplo disso: no primeiro dia, assim que chegamos ao hotel, perto das seis da tarde, não tínhamos almoçado. Estávamos cansados e famintos.
Assim, bagagem largada no hotel, banho tomado, saímos para dar uma volta no bairro.
Não era um bairro especialmente turístico. Portanto, os estabelecimentos eram lugares comuns, pequenos restaurantes e bistrôs, que vemos às dezenas, em qualquer lugar de Paris.


Risoto de “gamba” do bistrô Amadeus
Nada sofisticado, nem caro. Servem menus do dia por preços que variam de € 16,00 a € 32,00. Alguma coisa entre quarenta e oitenta reais, no câmbio da época. Por este preço, uma pessoa consome uma entrada, um prato principal e uma sobremesa. Geralmente cada menu traz duas ou três opções de cada um para escolha.






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Bem, nesse dia, entramos em um pequeno restaurante do bairro, chamado Cafe Amadeus, localizado na Avenue Mozart (claro).
Por € 24, pedi uma salada, um risoto de camarão (foto acima) e um delicioso Crême Brullé. Mais do que bem servido e - principalmente - com uma qualidade incrível, digna dos melhores restaurantes do Rio ou de São Paulo.




A tradição da gastronomia na França faz com que a referência deles seja altíssima. Ou seja, qualquer chefe ou cozinheiro de qualquer restaurante pequeno tem um nível de excelência muito alto.
Os pratos são artesanais. Não adianta você querer que te sirvam correndo por que está com pressa de sair para sua programação. A comida, mesmo sendo um prato do dia, com cardápio restrito, é feita na hora. A coisa do ”slow food“ e do ”slow life“ não é uma lenda. Eles praticam isso lá. E essa é uma das maravilhas de Paris.
Como disse, são restaurantes nada sofisticados. Os menus diários são escritos com giz em lousas que ficam expostas na entrada do restaurante e, se você, já sentado, pedir prá ver o cardápio, eles vão até a entrada e trazem aquela lousa prá você ver.




Salada Basilicata do Centro Georges Pompidou
Claro que existem restaurantes mais caros. Comemos no restaurante do Centro George Pompidou uma comida simples, muito simples, como aparecem nas fotos aí ao lado e abaixo. Custou três vezes mais caro do que o menu do Bistrô Amadeus. Mas isso é uma questão de escolha. Você pode entrar em um restaurante de Museu ou em algum da Avenue des Champs Elisées. Vai pagar bem mais caro por um prato que poderia comer, talvez melhor, em um bistrozinho de bairro.


De modo geral, os locais para comer nos arredores de pontos turísticos são muito caros.
É claro que o local e o serviço contam. Exatamente como aqui no Brasil. Nem mais, nem menos.


Lembro que na época do ridículo Plano Cruzado, um ”fiscal do Sarney“ chamou a polícia para prender o gerente de um dos restaurantes do Hotel Maksoud Plaza - o mais sofisticado da época - por ele estar vendendo uma garrafa de Guaraná mais caro do que a tabela praticada pelos botecos da Vila Sônia. E o gerente foi preso. Quanta demagogia!




E, se a gente não quer só comida, também quer diversão e arte, isso às vezes pode valer a pena, né.








Ou você não concorda que um prato servido com essa estética visual…








…e num lugar desse, não alimenta também o espírito…


Restaurante do Centro George Pompidou






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O Boulevar St. Michel - uma espécie de Bixiga de Paris - concentra, provavelmente, o maior número de restaurantes bons e baratos. É um lugar muito alegre e cheio de gente, especialmente à noite.






























Os restaurantes do Boulevard St. Michel trazem culinárias de várias nacionalidades.










A comida é muito boa, como sempre…





































… mas você pode preferir comer aqui (foto abaixo) - rodeado de obras de arte - no restaurante do Musée D'Orsay, que é lindo…






Restaurante do Musée D'Orsay






























…e também tem coisas muito gostosas, como por exemplo…




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Contudo, o melhor bistrô que frequentamos foi o Bistrô Bonjour. 





Não foi em Paris. Nem foi na França. Foi em Amsterdã.
Fica à margem de um dos lindos canais que cortam a cidade.


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Além de mesinhas ao ar livre ao lado de uma ponte, tem um ambiente interno acolhedor e um serviço irrepreensível.





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Depois de ter experimentado, no primeiro dia, este inenarrável Crevettes à Provençal, jantei mais dois dias lá. No segundo dia, comi um incrível, fantástico, sensacional  Maigret de Canard, com o qual sonho até hoje.


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É importante dizer que não estou falando aqui de alta culinária. Volto a dizer que frequentamos restaurantes comuns, sem grife, sem assinaturas.
Cozinha feita por gente comum, às vezes até pelos próprios donos e suas famílias, como, aliás, é comum por lá.
A impressão que me ficou é que a excelência da culinária francesa existe porque eles têm essa cultura. Faz parte da rotina e é completamente natural para eles.

Há um item que não foi mencionado aqui por que merece um artigo especial: a patisserie e a boulangerie.
O pão na frança é uma instituição. Tão sagrada que as receitas são regulamentadas por lei federal.
Volto a falar sobre isso, mas enquanto não acontece, fica com a imagem do croissant e, claro, um cafezinho…